segunda-feira, 13 de julho de 2009

GREVE: DIREITO, VALORIZAÇÃO E RESPEITO!

“Professores” (Jornal do Commercio, quarta-feira, 08/07/09, Caderno> Economia, p. 2. Coluna JC Negócios.) Fernando Castilho> “E os professores, hein? O governo do Estado com publicidade na TV> celebrando o programa Professor Conectado, piso nacional e a restauração das> escolas com laboratórios, e o Sintepe decretando greve por tempo> indeterminado. Ô povo ingrato esse da educação...”> * * * * *>> Ilmo. Sr. Fernando Castilho,> Saudações poéticas!!!>

Eu sempre estimei a função social (e pedagógica) do jornalista, do> profissional da imprensa em geral. Contudo, às vezes, alguns desses> profissionais adotam algumas posturas contradizentes com a realidade,> inadequadas, parciais, tendenciosas e até preconceituosas.> A sua nota "Professores", publicada na Coluna JC Negócios, do Jornal do> Commercio, hoje (08/07/09), é um exemplo desse tipo de postura.> Visivelmente, V. Sa. baseou-se apenas nos dados propagados pelo governo do> Estado para escrever sua nota. Com isso, exerceu um papel de crítico e algoz> de uma categoria que está em luta por melhores condições de trabalho e de> vida. Inclusive, sendo extremamente inconveniente e sarcástico no final da> "nota", ao afirmar: "Ô povo ingrato esse da educação...".> Para poder tecer comentários acerca da greve deflagrada pelos professores do> Estado, V. Sa. deveria considerar os dois (ou mais) lados da situação.> Por exemplo:> As cifras referentes a possíveis "aumentos" nos vencimentos, com a> implantação do Piso nacional (de 30,6 a 68%(?)), atingiu uma pequena parcela> dos professores da rede (a maioria em início de carreira). Os demais seriam> contemplados com o PCC, cuja implantação tem sido adiada há anos. Isso sem> falar que o tão-falado Piso também foi apenas parcialmente implantado no ano> passado; pois deveria ter sido corrigido em janeiro deste ano e isso não foi> feito.> O "bônus" (ou 14º ou meio-14º) não foi pago na folha de junho, como foi> divulgado na e pela imprensa; e os critérios para a conquista desse> "benefício" ainda estão meio obscuros.> O programa "Professor conectado" não atingiu a todos os professores hoje em> exercício de sala de aula; haja vista o fato de o Estado possuir> aproximadamente 5 mil professores contratados - que, apesar de darem aulas> no estado por até 4 (quatro) anos, não têm direito a participar de nem UM> dos programas, projetos, benefícios etc. destinados à categoria. (Isso sem> falar que a manutenção da conexão (internet) é extremamente cara; e não é> bancada pelo governo.)> A maior parte das escolas que possuem laboratórios (pois, muitas ainda não> os têm!) estão com os equipamentos sucateados e defasados; além de terem um> número insuficiente de computadores (em geral oito) para atender todo o> alunado. Até mesmo um simples conserto de uma máquina é invariavelmente> burocrático e sempre adiável, devido à falta de peças para reposição.> As "capacitações" não atingem todas as disciplinas e são realizadas em> outras cidades (geralmente, do interior), o que não permite a participação> de todos os profissionais convidados - que precisam ter mais de um vínculo> empregatício para poder sobreviver. (Além disso, a “ajuda de custo” paga> por tais participações demoram bastante para ser reembolsadas ao> professorado, que paga por antecipação.)> A maioria das escolas ainda conta com um número alarmante de> professores-contratados; enquanto muitos outros esperam a nomeação oriunda> dos concursos recentes.> E, algumas dessas escolas, ainda não têm professores para algumas> disciplinas desde o início do ano letivo (ou de anos anteriores), segundo> números do próprio SINTEPE, constantemente divulgados, e corroborados pelo> governo.> Os educadores de apoio (coordenadores pedagógicos) estão recebendo o mesmo> percentual de gratificação que os professores (60%); quando em anos> anteriores, este percentual era 10% maior que o do professorado - devido à> maior intensidade e diversidade de atividades.> Algumas escolas estiveram passando por reformas durante as aulas no 1º> semestre; causando mal-estar e problemas de saúde mais sérios em professores> e alunos.> Há escolas grandes que contam apenas com um ou dois funcionários na> Secretaria, causando atrasos na execução de atividades e serviços; enquanto> os aprovados no último concurso ainda esperam nomeação.> Até hoje, no início do 2º semestre, há alunos que não receberam fardas; pois> não foram entregues todos os números em quantidade suficiente.> Alguns alunos estão esperando a reposição de livros de algumas disciplinas,> que estão faltando nas escolas, desde o início do ano letivo.> Ou seja, ainda há muito para ser feito. Por isso, a greve dos professores é> lícita e visa a melhoria da educação como um todo.> Não é "ingratidão" nenhuma dos professores. Todos respeitamos os esforços> empreendidos pelo atual governador (eleito inclusive por uma grande maioria> dos professores e funcionários públicos em geral). Contudo, as propagandas> veiculadas na imprensa (e repetidas por alguns jornalistas/analistas) não> podem servir como um "presentinho", um "cala boca", que nós estamos> desdenhando, para que nós deixemos de reivindicar os nossos direitos.> Queremos uma educação pública e de qualidade para todos!!!> A nossa felicidade, neste caso específico, é a sua coluna não ficar num> caderno central e de interesse geral; portanto, não é tão lida; e, por isso,> o estrago que ela pôde fazer é bem menor do que se ela fosse veiculada no> Caderno Cidades, por exemplo.> Mesmo assim, eu (ou melhor: nós cidadãos, professores e não) solicitamos de> V. Sa. um pouco mais de atenção e acuidade social ao redigir as notas de sua> coluna.>

Agradeço pela sua atenção e coloco-me ao seu inteiro dispor para quaisquer> esclarecimentos que se fizerem necessários.> Cordialmente,> Francisco Mesquita. Professor. Olinda. ffmesquita@ig.com.br.